Sunday, August 8, 2010

Raízes - Todo origem

- "Você tem vontade de voltar?" she said.
- Sometimes I fell like floating weeds, você já viu o filme?
- Colorido, sim. Anos atrás, num começo de verão. Lembro do calor que fazia por lá. Da chuva. E de uma cena, a entrada do cais, uns barcos fora d'água. Tudo muito parado.
- Então.

Friday, July 2, 2010

Ferrolho III

"Àquela hora o jardim recendia a erva-doce e folhas secas, ao branco escurecido das paredes ao sol. Aquelas duas horas de verão e ele olhando, nenhuma brisa, se preparava já para sair, quando um homem apareceu lá de trás, veio vindo devagar, meio curvado e sempre, se aproximando até o portão e Boas tardes, e Aqui a chave, o Senhor olha e depois me devolve, pode gritar quando terminar. O homem voltou-se e saiu andando  para os fundos da casa de onde veio. Parado, ele olhava alternado homem, casa, jardim, casa, o cheiro vindo do jardim. (...)"
mais do texto, aqui.

Tuesday, June 22, 2010

Séculos atrás, ainda havia esperança

Sem saber, mergulhava no asfalto sem horizontes. Esperando a textura do chão, as ranhuras das camadas de tinta, silenciosamente. Anos depois havia perdido o sono, e o caminho. Mais ainda, perdera até a vontade de voltar.

Em silêncio, evitava lembrar o que vira, as casas no caminho, a estrada cortando em dois uma terra seca. A dureza do chão batido, seco até de lágrimas, não se recompunha mais em amanheceres gelados.

Dos quartos de beira de estrada e cafés nas xícaras, ele guardava uma lembrança amortecida, que há muito tempo deixara já de ser saudade.

Tuesday, June 15, 2010

Ferrolho II

Ocre diz seu nome

De palmeira em palmeira

 
Em algumas manhãs Emereciano chegava cedo na praça do Carmelo, olhando de longe horizontes cortados pela linha dos montes da serra do mar. Sem minas, sem sal, sem a precisão de voltar, ficava ali até o sol chegar alto, olhando barcos de pesca retornando e turistas recém-despertos perambulando pela beira do cais. E esperava que as portas do outro lado da praça se abrissem, e o cheiro de peixe fritando lhe convocasse para uma outra procissão. 

Ferrolho I

Medo verde. Quantas prisões não ousam dizer seus nomes.

Monday, June 14, 2010

Silêncios

Quando Emereciano chegou ali pela primeira vez, era noite de frio. O lugar não tinha mais de seiscentos moradores mas a proximidade do porto garantia algum movimento. Descer a serra era empreitada de muitos dias, molhados em águas torrenciais nos meses de chuva. Mata quase virgem onde abundavam jequitibás, guapuruvas, num mundo de troncos e cipós. O cheiro das orquídeas impressionando tropeiros, e o rugido de onças em noites de lua.

Nas curvas do caminho, clareiras abertas aqui e ali na picada descendo, os olhos se enchiam na visão do mar. Águas que curavam, diziam uns, as muitas ondas.

Trazendo carga das minas, Emereciano voltava levando sal. Fez isso por muito tempo, descendo em noites de lua. Durante os anos, enquanto esperava, se acomodava no largo da igreja do Rosário em silêncio. Fumando.

Behind another blue

She could not leave

Sunday, June 13, 2010

"Foi por amar que ela se amasiou com a tal solidão do lugar..."

Os anos de homilías, as preçes, deixavam marcas nas pessoas e nas coisas.
Depois que o café foi embora, enquanto os morros da região podiam enfim reclamar outra vez o que lhes havia sempre pertencido, fechando caminhos, cercando a cidade alimentada por fantasmas de escravos e de viajantes de tropas, os que ficaram se refletiam em sermões. Recitando hinos, repetindo sacramentos, tocando em solo santificado como uma ponte para a salvação, agarravam-se a poderes que não podiam ver.
E ali, por tanto tempo, ela esperou.

Tuesday, June 8, 2010

Thursday, June 3, 2010

Strawberries plantation


Depois da guerra, eu sonho com um campo de morangos. Vou fazer no asfalto mesmo minha horta, e um dia, amanhecendo, verrei morangos crescendo vermelhos cor de sangue em frente à minha janela.

Se eu não trouxesse minha própria terra, em quantos anos esse asfalto viraria um jardim?

Mais do Mesmo - sem os morangos

Cadê Alice?

Thursday, May 27, 2010

De um outro patio

Marianna tinha perdido as chaves de casa.Olhava do alto dos viadutos carros e pessoas la embaixo. Ouvia suas respiracoes, suas saudades. Sem asas, pensava algumas vezes se doeria cair, largando-se dali concreto abaixo, pela janela sem vidro.

Em tardes de sol e nuvens era mais facil persistir. Resistir. E revoar com os olhos, acompanhando pássaros impossíveis, pardais açodados, potes de plantas vazios nas janelas dos vizinho.

Lembrou de impossíveis amoreiras, do cajueiro em frente à casa, de amêndoas nas calçadas. De um céu azul sem nuvens. Daquele calor.

Saturday, May 1, 2010

Windmill farm

it was summertime when they crossed that border. half-empty packs on their backs, they came across the windmill farm. not a graveyard. Instead, a promise of lighter mornings behind those hills. Brighter, these dreamed promises appeared, although embroidered in much longing for a land they would not see again in their lifetime.

Saturday, April 10, 2010

last highway

at the end of the road, the sky was still pretty blue.

Laying there, I had a feeling of a continued fall, the world slowly turning around, while Nepomuceno walking away unabashed, never turning back to look at the spot where we had splashed, not once slowing the pace to smell that scent of freshly wet grass in a summer morning, unabated by the threads and "laces" of all those low growing bushes wrapping around his feet while he walked back to the road, to the worn out pavement still reflecting last night's rain, while my eyes letting me know they were about to close again, one last time.

I could see we'd reached the end of things, the last illuminated point at night, after which all that blue started  slowly to melt away, impossibly pixelating on faded grays, the pavement dying at a distance, exposing stones and dried mud where no electricity would ever reach. A silence of bits and of a smile-only cat figure sitting on a pole, the scent of palm wax on recently cleaned wooden floors, so many years ago that it had become just a fleeting glimpse, a faded gray:  a life I had no idea, anymore, full of cartoons watched on technicolor, the Saturday mornings' truck selling eggs and vegetables. The windmill of a lifetime slowly swirling around that blue sky, further exposing those interrupted cables. What a jump - I barely heard me say, what a splash this had been. And as it were I could not move, and it had finally come to me.

And why on earth my last thoughts were going to this middle-aged woman dancing at a disco in the Philippines, in the eighties of my budding years? Slowly dancing at a feminine voice, "here lies love, here lies love.."