Sunday, September 12, 2010

Birds

- "If you ask me that, yes, I know how to swim, I tell you. And yes, I could cross this cove, teeth clutching a rope, drenched clothes, late night. I could. But for what? I have now, my friend, nowhere to go back to."

- "And how about all those dreams of mangoes, freshly caught sapotis, graviola juice sticking to your lips in various sweetnesses and four o'clock afternoons?"

- "I lost them, you know, I can't even write about these, anymore."

Tuesday, September 7, 2010

Half way through

Pulava aqueles degraus num jogo que conhecia desde a muito tempo. Saltando o branco esmaecido de cada um, imaginando estórias de passos sobre aqueles traços escuros que se espalhavam pelo mármore trazido de longe no lombo de burros - Hermínia lhe contara um dia - e postas aqui num suadeiro de homens levantando e talhando e puxando e assentando cada pedra escada acima. Sem intervalo para mates. Seu avô se ocupava.

Séculos atrás - Hermínia contava revirando os olhos azuis e de vez em quando puxando o cabelo, liso e já quase branco, para trás da orelha. Sorrindo, no canto da boca, olhava enigmatica a me dizer que " asi como Borges hace tiempos, yo aún creía la ciudad eterna y perdiame, lo ves, en un Palermo que no ha existido jamás."

Sunday, August 8, 2010

Raízes - Todo origem

- "Você tem vontade de voltar?" she said.
- Sometimes I fell like floating weeds, você já viu o filme?
- Colorido, sim. Anos atrás, num começo de verão. Lembro do calor que fazia por lá. Da chuva. E de uma cena, a entrada do cais, uns barcos fora d'água. Tudo muito parado.
- Então.

Friday, July 2, 2010

Ferrolho III

"Àquela hora o jardim recendia a erva-doce e folhas secas, ao branco escurecido das paredes ao sol. Aquelas duas horas de verão e ele olhando, nenhuma brisa, se preparava já para sair, quando um homem apareceu lá de trás, veio vindo devagar, meio curvado e sempre, se aproximando até o portão e Boas tardes, e Aqui a chave, o Senhor olha e depois me devolve, pode gritar quando terminar. O homem voltou-se e saiu andando  para os fundos da casa de onde veio. Parado, ele olhava alternado homem, casa, jardim, casa, o cheiro vindo do jardim. (...)"
mais do texto, aqui.

Tuesday, June 22, 2010

Séculos atrás, ainda havia esperança

Sem saber, mergulhava no asfalto sem horizontes. Esperando a textura do chão, as ranhuras das camadas de tinta, silenciosamente. Anos depois havia perdido o sono, e o caminho. Mais ainda, perdera até a vontade de voltar.

Em silêncio, evitava lembrar o que vira, as casas no caminho, a estrada cortando em dois uma terra seca. A dureza do chão batido, seco até de lágrimas, não se recompunha mais em amanheceres gelados.

Dos quartos de beira de estrada e cafés nas xícaras, ele guardava uma lembrança amortecida, que há muito tempo deixara já de ser saudade.

Tuesday, June 15, 2010

Ferrolho II

Ocre diz seu nome

De palmeira em palmeira

 
Em algumas manhãs Emereciano chegava cedo na praça do Carmelo, olhando de longe horizontes cortados pela linha dos montes da serra do mar. Sem minas, sem sal, sem a precisão de voltar, ficava ali até o sol chegar alto, olhando barcos de pesca retornando e turistas recém-despertos perambulando pela beira do cais. E esperava que as portas do outro lado da praça se abrissem, e o cheiro de peixe fritando lhe convocasse para uma outra procissão. 

Ferrolho I

Medo verde. Quantas prisões não ousam dizer seus nomes.

Monday, June 14, 2010

Silêncios

Quando Emereciano chegou ali pela primeira vez, era noite de frio. O lugar não tinha mais de seiscentos moradores mas a proximidade do porto garantia algum movimento. Descer a serra era empreitada de muitos dias, molhados em águas torrenciais nos meses de chuva. Mata quase virgem onde abundavam jequitibás, guapuruvas, num mundo de troncos e cipós. O cheiro das orquídeas impressionando tropeiros, e o rugido de onças em noites de lua.

Nas curvas do caminho, clareiras abertas aqui e ali na picada descendo, os olhos se enchiam na visão do mar. Águas que curavam, diziam uns, as muitas ondas.

Trazendo carga das minas, Emereciano voltava levando sal. Fez isso por muito tempo, descendo em noites de lua. Durante os anos, enquanto esperava, se acomodava no largo da igreja do Rosário em silêncio. Fumando.

Behind another blue

She could not leave

Sunday, June 13, 2010

"Foi por amar que ela se amasiou com a tal solidão do lugar..."

Os anos de homilías, as preçes, deixavam marcas nas pessoas e nas coisas.
Depois que o café foi embora, enquanto os morros da região podiam enfim reclamar outra vez o que lhes havia sempre pertencido, fechando caminhos, cercando a cidade alimentada por fantasmas de escravos e de viajantes de tropas, os que ficaram se refletiam em sermões. Recitando hinos, repetindo sacramentos, tocando em solo santificado como uma ponte para a salvação, agarravam-se a poderes que não podiam ver.
E ali, por tanto tempo, ela esperou.

Tuesday, June 8, 2010

Thursday, June 3, 2010

Strawberries plantation


Depois da guerra, eu sonho com um campo de morangos. Vou fazer no asfalto mesmo minha horta, e um dia, amanhecendo, verrei morangos crescendo vermelhos cor de sangue em frente à minha janela.

Se eu não trouxesse minha própria terra, em quantos anos esse asfalto viraria um jardim?

Mais do Mesmo - sem os morangos

Cadê Alice?

Thursday, May 27, 2010

De um outro patio

Marianna tinha perdido as chaves de casa.Olhava do alto dos viadutos carros e pessoas la embaixo. Ouvia suas respiracoes, suas saudades. Sem asas, pensava algumas vezes se doeria cair, largando-se dali concreto abaixo, pela janela sem vidro.

Em tardes de sol e nuvens era mais facil persistir. Resistir. E revoar com os olhos, acompanhando pássaros impossíveis, pardais açodados, potes de plantas vazios nas janelas dos vizinho.

Lembrou de impossíveis amoreiras, do cajueiro em frente à casa, de amêndoas nas calçadas. De um céu azul sem nuvens. Daquele calor.