Monday, June 30, 2014
Fotografias de outono
E o dia aqui acordou ensolarado e quente. E seco, como apenas nos desertos é possível ser.
O verde das plantas é amaciado, já sem poder mais sair em força, já que a muito falta água e a seca são as únicas sombras constantes que um deserto pode oferecer.
Detrás da janela, olhando a grama lá fora eu revejo sem olhar o calor húmido dos trópicos, mesmo em épocas de chuva e pouco frio como faz lá agora. E sinto o cheiro das coisas depois de uma chuva longa, do céu despencado em trovões e relâmpagos e a água inundando as calçadas, escorrendo por telhas e paredes, lavando a cal e os umbrais das portas.
E o cheiro vivo de terra molhada que me entrava pela casa a dentro, morcegos nos sapotis do quintal, junto com mangas da estação. Aquele cheiro todo envolvendo as coisas e a humidade a subir pelas paredes e o ar limpo e claro de quando a vida parecia resumir seu curso, o vendedor de bananas, o apotecário reabrindo as portas, o cheiro de pão recém-desenfornado vindo da padaria. O relógio e a marca das quatro.
E eu ali, entre camaleões no jardim, o piano em silêncio.
Assim agora nessa manhã quente de deserto eu revejo a chuva e voce.
E em mim outra vez a vontade de me encolher sob os lençóis em voce e me derramar na tua pele a me perder em meia-luas, muito tatuador, tudo muito lento, assim, que "é pra nos dar coragem, pra seguir viagem, quando a noite vem..."
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