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Tuesday, December 1, 2009

Hidden garden



[Behind the gate, a summer garden. Plants of an extravagant size, sided by earth-beds of cultivated herbs: the scent of rosemary right behind the wall waking up a collection of tea-making weeds, dispersed throughout the impossible back yard: clove, artemisia, cardo bento, garden mint, jessamine, coriander, lilies, basil, chamomile, snapdragon, lion's mouth, rue, herb-of-grace, sandalwood, dragon's blood.

Fruit trees on the back of the patio: guavas, sapotis, mangos flowering: bats have nightly parties, here. I could smell the scent of recently moist soil, footprints of this gardener following bays and channels across the vegetable garden to the right, leading back to an early walk by an orchard.

On a window sill, water-filled colored glasses sit through the day: violet for elevation, these subtleties; blue for words and throat; green for lungs and heart; yellow washing liver, intestines, calming anxiety; orange and sex; and finally red, centered on the sill, more exposed to the sun. Red for the structure of my path. Legs and feet.
My armchair, my walking stick, my road diverging in two.

Hunger, real hunger, was left on this side of the wall.]

Monday, November 30, 2009

A porta de Janaína, seu bisavô, e Pero Vaz



[Onde vai dar? De onde traz? "Um milharal apertado no quintal da casa," ele disse. O terreno onde Janaína viu tantas vezes, descampado, o cachorro Pero Vaz dançando no terreiro, desenterrando tatu, comendo as pitangas que caíam em Abril. O muro ainda baixo dava a cara para o largo onde as mulas desacansavam.

O muro baixo construído por um bisavô que comandou, na cidade, o destacamento de polícia, caçou escravos fujões, transportou carne seca e sal até Minas Gerais, traficou diamantes, e colocou a pedra primeira da matriz do largo novo, cuja porta da frente podia ver da janela da sua sala. 

Pero Vaz Já se foi, a tempos. E também Janaína. Ficaram a porta fechada, as janelas olhando o capim crescendo, o muro recoberto por novas pedras, outras telhas, e escondendo do lado de cá, a visão do largo de paragen de arreiros, transformado em rua, calçada, retocada, como as frentes de igrejas matrizes devem ser.]

Sunday, November 29, 2009

Old city in Goiás


Na casa da minha avó a luz havia sido cortada por falta de pagamento. De esquina, a casa era situada num alto de onde podiamos ver as luzes da ribeira e as luzes dos autos pela carretera que levava a Sintra la embaixo. Naquela noite, uma agua clara escorria pela porta de entrada, recobrindo o assoalho, os móveis, os discos na vitrola e a foto de Caetano sobre a mesa da sala de jantar.

Minha avó de pernas finas terminava de descascar batatas sob uma luz impossível àquela hora da noite, cabelos pingando daquela água de roupas estendidas em varais pela casa. Numa cidade onde água desaparecia das torneiras depois da sete, aquele movimento febril dentro da casa contrastava com a quietude das pessoas na porta de entrada.  Meu primo Orlando sobre a cadeira olhava a rua que parecia não ver. José de barba aparada e bigodes cerrados segurava um candeeiro e dizia resignado que não sabia mais de onde puxar a luz. Não viria. Ficaríamos no escuro.

Seu Deodoro chegou num fusca antigo, abrindo a porta e entrando pela casa com a água quase a lhe dar nas canelas. E perguntou à minha avó de levava parte da roupa para secar em casa, onde havia luz. Ainda não havia dado oito horas.