Smile. It makes people wonder...
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Monday, February 3, 2014
Monday, May 2, 2011
Viaduto Blues
Viaduto na sombra. De uma janela ao lado, Eliza olhava carros inundando a pista em horas de pico. "São Cristóvão abandonou a todos nós," ela pensava.
"Vou ficar aqui, olhando o viaduto passar, até amanha de manhã. Até que esse cinza encoberto pela noite, às vezes revelado em sujeiras relampejadas pela luz dos carros; até que esse horizonte cortado, travado em janelas cobertas de fuligem; até que a visão aqui em frente se expanda uma outra vez, a luz de um dia que não seja cinza retorne num colorido de prédios amanhecendo, sem o barulho nem a fuligem dos carros.
Eu vou ficar aqui, repito, ouvindo um cantar de cigarras nos paus, impossíveis flores de outono, quantas quedas. Vou ficar enquanto posso olhar dessa janela; esperando Juscelino e sua guitarra, esperando seu sorriso branco de tantos dentes enfileirados, sua voz mostrando-se às vezes enquanto me fala dos tangos que ouviu tocar, dos bares escuros nos quais se apresentou; falando, sem um som, das mulheres que lhe deram pouso e companhia.
Aqui estou, São Cristóvão, abandonada. Cinza como a visão que tenho diante de mim. esperando torcendo por um dia de cores abertas, outras profundidades, sons de outra festa.
Querendo não esperar nunca mais. Nem por silêncio de carros, nem por Juscelino chegando."
"Vou ficar aqui, olhando o viaduto passar, até amanha de manhã. Até que esse cinza encoberto pela noite, às vezes revelado em sujeiras relampejadas pela luz dos carros; até que esse horizonte cortado, travado em janelas cobertas de fuligem; até que a visão aqui em frente se expanda uma outra vez, a luz de um dia que não seja cinza retorne num colorido de prédios amanhecendo, sem o barulho nem a fuligem dos carros.
Eu vou ficar aqui, repito, ouvindo um cantar de cigarras nos paus, impossíveis flores de outono, quantas quedas. Vou ficar enquanto posso olhar dessa janela; esperando Juscelino e sua guitarra, esperando seu sorriso branco de tantos dentes enfileirados, sua voz mostrando-se às vezes enquanto me fala dos tangos que ouviu tocar, dos bares escuros nos quais se apresentou; falando, sem um som, das mulheres que lhe deram pouso e companhia.
Aqui estou, São Cristóvão, abandonada. Cinza como a visão que tenho diante de mim. esperando torcendo por um dia de cores abertas, outras profundidades, sons de outra festa.
Querendo não esperar nunca mais. Nem por silêncio de carros, nem por Juscelino chegando."
Saturday, April 9, 2011
E não havia ninguem para traduzir
Entre o quintal e a rua o que havia eram terras do reyno. Se eu soubesse que atravessar a praça me custaria tantos anos, teria deixado aquele lugar mais cedo. Juntava-me a alguma tropa, caixeiros viajantes quase nunca faltavam. O que eu não sabia era falar. Mas tinha braço forte e muito fôlego.
Bobeei, seu môço, bobeei. Nesse tempo todo eu pensei que cruzar a praça tivesse fundamento de razão. Tinha não. O senhor me entenda, por favor, eu era mais era um menino sonhando em ser homem.
Bobeei, seu môço, bobeei. Nesse tempo todo eu pensei que cruzar a praça tivesse fundamento de razão. Tinha não. O senhor me entenda, por favor, eu era mais era um menino sonhando em ser homem.
Sunday, August 8, 2010
Raízes - Todo origem
- "Você tem vontade de voltar?" she said.
- Sometimes I fell like floating weeds, você já viu o filme?
- Colorido, sim. Anos atrás, num começo de verão. Lembro do calor que fazia por lá. Da chuva. E de uma cena, a entrada do cais, uns barcos fora d'água. Tudo muito parado.
- Então.
- Sometimes I fell like floating weeds, você já viu o filme?
- Colorido, sim. Anos atrás, num começo de verão. Lembro do calor que fazia por lá. Da chuva. E de uma cena, a entrada do cais, uns barcos fora d'água. Tudo muito parado.
- Então.
Sunday, June 13, 2010
"Foi por amar que ela se amasiou com a tal solidão do lugar..."
Os anos de homilías, as preçes, deixavam marcas nas pessoas e nas coisas.
Depois que o café foi embora, enquanto os morros da região podiam enfim reclamar outra vez o que lhes havia sempre pertencido, fechando caminhos, cercando a cidade alimentada por fantasmas de escravos e de viajantes de tropas, os que ficaram se refletiam em sermões. Recitando hinos, repetindo sacramentos, tocando em solo santificado como uma ponte para a salvação, agarravam-se a poderes que não podiam ver.
E ali, por tanto tempo, ela esperou.
Depois que o café foi embora, enquanto os morros da região podiam enfim reclamar outra vez o que lhes havia sempre pertencido, fechando caminhos, cercando a cidade alimentada por fantasmas de escravos e de viajantes de tropas, os que ficaram se refletiam em sermões. Recitando hinos, repetindo sacramentos, tocando em solo santificado como uma ponte para a salvação, agarravam-se a poderes que não podiam ver.
E ali, por tanto tempo, ela esperou.
Thursday, June 10, 2010
Tuesday, June 8, 2010
Monday, June 7, 2010
Thursday, June 3, 2010
Strawberries plantation
Depois da guerra, eu sonho com um campo de morangos. Vou fazer no asfalto mesmo minha horta, e um dia, amanhecendo, verrei morangos crescendo vermelhos cor de sangue em frente à minha janela.
Se eu não trouxesse minha própria terra, em quantos anos esse asfalto viraria um jardim?
Se eu não trouxesse minha própria terra, em quantos anos esse asfalto viraria um jardim?
Thursday, May 27, 2010
De um outro patio
Marianna tinha perdido as chaves de casa.Olhava do alto dos viadutos carros e pessoas la embaixo. Ouvia suas respiracoes, suas saudades. Sem asas, pensava algumas vezes se doeria cair, largando-se dali concreto abaixo, pela janela sem vidro.
Em tardes de sol e nuvens era mais facil persistir. Resistir. E revoar com os olhos, acompanhando pássaros impossíveis, pardais açodados, potes de plantas vazios nas janelas dos vizinho.
Lembrou de impossíveis amoreiras, do cajueiro em frente à casa, de amêndoas nas calçadas. De um céu azul sem nuvens. Daquele calor.
Em tardes de sol e nuvens era mais facil persistir. Resistir. E revoar com os olhos, acompanhando pássaros impossíveis, pardais açodados, potes de plantas vazios nas janelas dos vizinho.
Lembrou de impossíveis amoreiras, do cajueiro em frente à casa, de amêndoas nas calçadas. De um céu azul sem nuvens. Daquele calor.
Tuesday, December 8, 2009
Other conversations
[Pereira was a long time friend of that sidewalk, the shade of that almond tree. He also knew the smells that would come from the sewer, if the weather was too hot. Recognized the breeze that, on cooler days, would bring scents from the market two blocks down to the south, with its many stands selling spices, cheese, codfish, oils, and which fully supplied the whole universe of fancy restaurants in town.
Pereira had grown up through those streets. In the afternoons, he would wear out his voice announcing through his lungs unbelievable deals on fake leather bags, colored cotton socks and men's underwear. His grandfather sat on a leather stool as old as the place - this tabouret, he repeated often, had sat foot there with him the first day he opened those doors for business.
When electric trolleys still moved around, he sold fine fabrics, silk and Egyptian cotton. But business went sour, old residents moved away from the area and that part of downtown was filled mostly with street sellers during the day, catering for people who walked by the area, in and out of work, and homeless people - at night.
By the time the economy sunk really low - in the early eighties - his neighbor Jeremiah sold his business, gathered his things, and moved back to Santana. The building remained closed for decades, until it was sold, torn down, and a parking lot opened in its place. For forty-five years Jeremiah sold glasses. Reading and sun glasses. He passed away not long ago. A few months after Pereira's grandfather died, Joachim.
He drank coffee every afternoon, with cheese bought at the market two blocks down the street. Even when it was very hot - february afternoons were worse. At least he had the shade of the almond tree to cool down, a little, the hot breeze - when there was a breeze.
Pereira saw that tree grow old. He sold many leather bags, under its shade. And cotton socks. And saw and flerted with many women there. Some would stop to buy something, just to talk to him. Others would look at the business, and then at his dark brown eyes, smiling back and shining high on his large face, its skin darkened by the sun.
He never married, although had known many women. Pereira had a large smile, a soft but firm voice - that dropped to a deeper resonating tone when he screamed leather deals - and dark thick hair. Women liked his voice, the smile on his face and his way of looking always sure of what he said. He knew them well, liked them all, but went always back home alone.]
By the time the economy sunk really low - in the early eighties - his neighbor Jeremiah sold his business, gathered his things, and moved back to Santana. The building remained closed for decades, until it was sold, torn down, and a parking lot opened in its place. For forty-five years Jeremiah sold glasses. Reading and sun glasses. He passed away not long ago. A few months after Pereira's grandfather died, Joachim.
He drank coffee every afternoon, with cheese bought at the market two blocks down the street. Even when it was very hot - february afternoons were worse. At least he had the shade of the almond tree to cool down, a little, the hot breeze - when there was a breeze.
Pereira saw that tree grow old. He sold many leather bags, under its shade. And cotton socks. And saw and flerted with many women there. Some would stop to buy something, just to talk to him. Others would look at the business, and then at his dark brown eyes, smiling back and shining high on his large face, its skin darkened by the sun.
He never married, although had known many women. Pereira had a large smile, a soft but firm voice - that dropped to a deeper resonating tone when he screamed leather deals - and dark thick hair. Women liked his voice, the smile on his face and his way of looking always sure of what he said. He knew them well, liked them all, but went always back home alone.]
Monday, December 7, 2009
Sunday, December 6, 2009
Saturday, December 5, 2009
Friday, November 27, 2009
The picture I saw - A vila da fundição
[Bats were nozing in the air. No calor daquele verão, o cheiro das frutas caídas, explodindo sob as árvores altas, um verde escuro: mangas, sapotis, graviolas. Besouros dançavam no ar. Um zumbido de moscas, continuamente perdidas em incontáveis teias de aranhas estendidas entre as folhas.
Dois carros de boi passaram, em fila, as rodas deixando sulcos fundos na terra molhada. Lá atrás, a fundição produzia sua dúzia diária de itens: pregos, estacas, postes para a ilumiação pública. A ferrovia chegava até ali perto, mas terminava do outro lado, atrás da fundição.]
Monday, July 30, 2007
Saharienne
Todos aqueles silencios eram falta de pratica. De enfase. De teimosia incontida, repetida, sob o sol, na calçada. A cada dia eu acordava mais tarde. Ela seguia, do outro lado da mouraria, do outro lado da cidade, antes do mar. Aqui apenas uma saudade. E uma musica. E uma foto junto a uma fonte.
Tanto sol que rebrilhava até nos ladrilhos escurecidos pela fumaca dos carros. Tanto sol que o cheiro das coisas se multiplicava, invadindo os sentidos, saindo de esgotos, de cantos de jardim ressecados, do verde intenso das folhas.
Um cheiro de café chegava do vizinho em baixo. Almofadas pelo chão. Um dia talvez nos reencontramos, saharienne. Numa rua ou em meu sonho, você sorrindo debaixo daquele azul de mar em dia de sol.
Até lá me restam as janelas que trazem você em surpresas, do outro lado da rua. Do outro lado, você sabe, Saharienne, do mar.
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