Sunday, November 29, 2009

Old city in Goiás


Na casa da minha avó a luz havia sido cortada por falta de pagamento. De esquina, a casa era situada num alto de onde podiamos ver as luzes da ribeira e as luzes dos autos pela carretera que levava a Sintra la embaixo. Naquela noite, uma agua clara escorria pela porta de entrada, recobrindo o assoalho, os móveis, os discos na vitrola e a foto de Caetano sobre a mesa da sala de jantar.

Minha avó de pernas finas terminava de descascar batatas sob uma luz impossível àquela hora da noite, cabelos pingando daquela água de roupas estendidas em varais pela casa. Numa cidade onde água desaparecia das torneiras depois da sete, aquele movimento febril dentro da casa contrastava com a quietude das pessoas na porta de entrada.  Meu primo Orlando sobre a cadeira olhava a rua que parecia não ver. José de barba aparada e bigodes cerrados segurava um candeeiro e dizia resignado que não sabia mais de onde puxar a luz. Não viria. Ficaríamos no escuro.

Seu Deodoro chegou num fusca antigo, abrindo a porta e entrando pela casa com a água quase a lhe dar nas canelas. E perguntou à minha avó de levava parte da roupa para secar em casa, onde havia luz. Ainda não havia dado oito horas.

No comments:

Post a Comment